Empresária do software ingressa na pecuária de leite e preside associação do setor

22 abril 2013

Dois motivos reforçam a liderança da empresária rural Maria Rosinete de Souza Effting, a Rosi, de Nova Veneza e Braço do Norte. Um é que ela é a primeira mulher a presidir a Associação Catarinense de Criadores de Bovinos (ACCB), e o outro é que o preço do leite nunca esteve tão alto no Estado, impulsionado pelo mercado externo. Sócia do marido em empresa de software, Rosi passou a investir na pecuária leiteira há 10 anos.

Como ingressou na pecuária de leite?

Rosi Effting – Sou lageana. Isto foi o diferencial. Quando criança, eu ficava encantada com a atividade nas fazendas dos meus tios. Meu marido, o Bernardo, trabalhava no Banco Real. Moramos em Nova Veneza e Chapecó. No início do casamento, me dediquei muito à família. Mais tarde, o Bernardo saiu do banco e decidiu trabalhar com software . Ele é autodidata na área. Começou a fazer sistemas para supermercados e os negócios foram aumentando. Hoje, a nossa empresa, a Market Automações, de Nova Veneza, tem clientes supermercadistas em SC e fora do Estado. Num determinado momento, resolvemos diversificar. Bernardo iniciou a produção de suínos com o irmão dele, em Braço do Norte. Veio uma crise e eles desistiram. Então, eu decidi desenvolver pecuária de leite na propriedade. Abri a Cabanha Guinther (numa homenagem ao nosso filho mais novo), com 10 novilhas da raça jersey, em 2003. Completamos 10 anos.

A senhora acabou de vender uma vaca por R$ 50 mil. Como conseguiu valor tão alto?

Rosi – Quando a gente começa, compra animais normais. No momento em que a atividade deixa de ser apenas lazer, a meta é torná-la rentável. Como gosto de tecnologia, passei a buscar inseminação artificial e transferência de embrião. A genética foi melhorando. Em cinco anos, comecei a participar de exposições. Essa vaca jersey foi vencedora em todas as exposições em que participou. Vendi para um pecuarista do RS que foi expor na Feileite, de SP, a maior mostra do Brasil. Vender uma vaca por R$ 50 mil é o sonho de qualquer produtor. A gente acha que nunca vai conseguir, e quando consegue, é muito gratificante. Investi o dinheiro da venda na propriedade, em pastagens e equipamentos. Em média, novilhas de raça com alto padrão genético custam entre R$ 15 mil e R$ 25 mil.

Por que a decisão de participar do associativismo, se tornando a primeira mulher à frente da ACCB?

Rosi – Anos atrás, os homens eram maioria nas exposições. Hoje, as famílias participam. Afinal, é a mulher que tira leite, faz inseminação, trata os animais…Como presidente, quero levar a tecnologia ao pequeno produtor. Se ele vende uma vaca sem registro de origem (PO ou PC) ele ganha, em média, R$ 2,5 mil. Se tem registro, consegue R$ 5 mil.

Como as mulheres veem a sua atuação à frente da associação?

Rosi – A maioria se identifica muito comigo. Quando falo em eventos, valorizo o trabalho das mulheres. Elas levantam cedo, tiram leite, cuidam dos filhos, da casa, voltam ao trabalho. Estou feliz em colaborar para o desenvolvimento do setor.

O que o leite representa para o meio rural catarinense?

Rosi – Toda a propriedade que tem um plantel e faz o manejo certinho, tem renda mensal. É diferente de outras atividades rurais que dão resultado em mais longo prazo. Uma senhora de Lages me contou que está muito feliz porque seus dois filhos que estavam na cidade voltaram para casa porque a renda do leite está melhor. A qualidade de vida no interior, com mais tecnologia, hoje é muito boa ( O Estado produz cerca de 2,2 bilhões de litros/ano).

Notas

Desde a infância

Rosi Effting, 53 anos, tem admiração pela vida no campo e pela pecuária desde a infância, no interior de Lages. Quando tinha cinco anos, sua família mudou para a cidade. Aos 10 anos, já ajudava o pai no açougue, mas visitava os tios, que continuaram com criação de gado. Agora, empresária do setor, comemora as premiações do seu rebanho. Uma delas foi a de uma vaca na Feagro (foto) de 2011.

Com a família 

A estreia no mundo dos negócios ocorreu mais tarde. Após trabalhar com os pais e terminar o terceirão, Rosi casou-se com Bernardo Effting (C) aos 20 anos e teve os quatro filhos (foto): Pauline, os gêmeos Rafael (E) e Bernardo, e Guinther (D). Foram quase 20 anos dedicados à família. Hoje, ela atua na gestão financeira da Market e comanda a cabanha, que tem dois empregados e produz de 650 a 700 litros de leite por dia, com o auxílio de máquinas, ordenhadeiras e software.

Preço favorável

Produtores de leite de SC estão tendo lucro. A boa fase ocorre em função da seca no maior produtor mundial, a Nova Zelândia, e do crescente consumo do produto na China. Além disso, os preços dos insumos da ração animal estão em queda. Isto aumenta as margens dos produtores que ganham, em média, R$ 0,90 por litro. O custo da tonelada do leite em pó está US$ 5.245, 17% maior que no mesmo período de 2012.

Frase - “Vender uma vaca por R$ 50 mil é o sonho de qualquer produtor. A gente acha que nunca vai conseguir e, quando consegue, é muito gratificante”.
 
Fonte da matéria no blog da Estela Benetti